Com grande alegria, dias atrás, encontrei num “seboso” de Campinas o livro “O Sindicato do Crime”, de Percival de Souza. Noutras oportunidades o folheei nas melhores livrarias, mas não o comprei por razões financeiras.Não que fosse caro, apenas a endêmica penúria dos Delegados, e policiais comuns, que nos faz distantes da leitura; entre tantos outros prazeres que nos são proibidos.
Se bem que, a rigor, ler, ainda que prazerosamente, nos parece necessidade.
Mas para quem sobrevive com parcos vencimentos, ou vencimentos mais proventos dos bicos, livro é artigo de luxo.
Um supérfluo apenas para corruptos, pois estes não fazem “bico como segurança”, contando com muito tempo e dinheiro para leitura.
E a propósito dos “bicos” aceitos como dignificantes:
“Alguns bicos são feitos em pleno horário de expediente, com carro oficial, mas nesse caso se considera que tudo está bem. Muitos gastam a maior parte de seu tempo em cursinhos particulares que preparam candidatos a concursos públicos. O que não pode é o policial fazendo “bico” de segurança.” (cf. fl. 217)
Grande verdade Percival, mas pode ser dono da empresa.
Uma leitura obrigatória; valendo até para conhecer o significado dado para “seboso”, em nada relacionado com “sebo” de livros.
Perdoem-me, contudo não farei aqui resumo da obra; apenas remissões.
Pois o autor – com o estilo elegante, polido e comedido de sempre – nos impõe profunda reflexão.
E nos obriga – digo daqueles que militam na polícia – ao aprofundamento de pesquisas e investigação acerca daquilo que cotidianamente acontece em nosso derredor.
De se ver , apenas como pequenos exemplos, estas passagens:
“Muitos policiais com vocação passaram a ficar sem espaço, preteridos, propositadamente encostados, totalmente alijados dos cargos principais”.
“Muitos honestos desistiram e anteciparam suas aposentadorias”.
“Muitos desonestos começaram a apresentar-se como democratas subitamente convertidos, à semelhança do que o PCC faz quando diz que representa a massa carcerária oprimida.”
O autor, paradoxalmente, numa das passagens da obra, acaba sendo obrigado a lançar menção elogiosa a um dos democratas de última hora.Um daqueles que – em coletivas – anunciavam todo e qualquer criminoso sem expressão como “membro do PCC”; também vulgarizando a interceptação telefônica.
Mas tal passagem e menção elogiosa que deve ser compreendida e estendida por justiça aos policiais da equipe – em vez de isoladamente ao especialista em auto “merchandising “- não retiram o brilho e a importância da obra.
Um documento revelador da tibieza de autoridades policiais e autoridades políticas; que algemadas pela corrupção foram responsáveis pelo genocídio deflagrado pelo PCC.
E acima de tudo uma obra-documento que clama pelo conserto – “assepsia policial” – das Instituições e valorização dos bons policiais.